sábado, março 17, 2007

Parada em Cuzco

Depois de uma semana em Punta Hermosa, no sábado subi a serra segui para Cuzco. Para quem estiver no Peru pela primeira vez para uma surf trip, a viagem a Cuzco é imperdível. Enquanto na costa a paisagem é feia, dominada pela poeira e pelo deserto, nas montanhas o verde predomina, proporcionando excelentes fotos e uma boa oportunidade para descansar o corpo.

Cheguei na tarde de sábado, no último vôo, e voltei para Lima na de terça-feira, no vôo de uma da tarde. Para quem quer viajar para o o Peru, sugiro que uma esticada até Cuzco seja um pouco mais longa, porque a cidade é bonita e nos primeiros dias você fará apenas os programas "indispensáveis", como Machu Pichu e o tour do Vale Sagrado. Ficando pouco tempo como eu, na hora que você se localizar em Cuzco, estará na hora de ir embora.

Saindo de Lima, a viagem de Cuzco me custou ao todo US$ 400, já incluído o avião de ida e volta e a viagem para Machu Pichu, que sozinha custa US$ 120. Existem 3 passeios básicos, que podem ser fechados em qualquer agência de viagens da Plaza de Armas:
  1. City tour (não fiz, mas dizem que é meio fraco, te ocupa por uma tarde);
  2. Vale sagrado (dura o dia inteiro e é imperdível, com visitas a várias ruínas);
  3. Machu Pichu (também o dia inteiro, e nem pense em ir para Cuzco sem conhecer Machu Pichu).

Ou seja, em 4 dias é possível fazer esse tour básico, e ter tempo para curtir os simpáticos barzinhos e danceterias de Cuzco. A cidade é boa para quem gosta de aventura ou ecologia, e se anima em fazer trekings, trilhas de mountain bike ou rafting, ou para os que são fissurados em ruínas de civilizações antigas.

O passeio mais comentado é a trilha inca: 4 dias e 3 noites caminhando entre Cuzco e Machu Pichu, subindo e descendo montanhas e acampanhando ao ar livre. Mas se você quiser isso, prepare-se: o acesso à trilha é controlado e é preciso fazer o agendamento e pagar as taxas com 30 dias de antecedência. Ou seja, será preciso contar com a intermediação de uma agência de viagens.

Apesar de Cuzco ser um pouco mais cara que as outras cidades do Peru, ainda assim é barata. Fiquei no hotel Qorikancha, em um quarto bem legalzinho, com direito a banheiro privativo e TV a cabo, e paguei só US$ 10 por dia. Para ir a qualquer lugar dentro da cidade (excluindo o aeroporto), paga-se 2 soles de dia e 3 soles à noite (algo entre R$ 1 e R$ 2).

Pacasmayo

Nem me lembro direito quando foi, mas há alguns anos vi um programa na TV falando de uma onda interminável, a mais longa do mundo. Essa onda, Chicama, está no Peru, e era um dos objetivos da minha viagem. Como descobri depois, não é uma onda para qualquer um, mas pelo menos consegui surfar em Chicacama - o que acabou se tornando o ponto alto da minha viagem.

Depois de ouvir falar de Chicama, descobri que no Peru existe outra onda de nível internacional, e também muito longa - Pacasmayo. Como aprendi conversando com quem já havia estado no Peru, Chicama é uma onda muito inconstante, precisando de um grande swell para funcionar, enquanto em Pacasmayo (na verdade, esse é o nome da cidade, e não da praia) o surf rola muito mais freqüentemente.

Antes de ir para Machu Pichu todo dia via a previsão do swell, esperando o dia em que as ondas estariam com 2 metros ou mais em Lima. Como não foi difícil encontrar gente que também queria ir para Pacasmayo, no dia seguinte à minha volta de Cuzco uma barca com 6 pessoas estava fechada. Por 85 soles compramos a passagem de ônibus leito, da empresa Cial, e depois de uma noite de viagem estávamos em Pacasmayo, a "cidade sorisso".

Cidade sorriso porque você olha para um lado, para o outro, sorri e fala: "Que merda!". É uma cidade pequena, pobre e maltratada, que vive em torno de uma antiga fábrica de cimento. Os únicos turistas são surfistas, quase todos brasileiros, e são três as opções de hospedagem:
  • Hotel El Mirador - diária de 40 soles, incluindo café da manhã, almoço e jantar. Os quartos são arrumados, com direito a TV de 40 polegadas e DVD, mas a qualidade da comida é duvidosa. No quinto dia passei mal por conta da comida, o que praticamente detonou o resto da minha viagem.
  • Pousada Los Faroles - mesmo preço e condições do El Mirador. Os quartos não têm camas tão confortáveis quanto as do El Mirador, mas oferece um ambiente mais agradável, com um grande jardim interno, e uma comida mais saudável. - www.pacasmayolosfaroles.com
  • Hotel El Faro - mais confortável, melhor opção para quem viaja acompanhado da namorada ou esposa. Diária de US$ 20 com café da manhã - a refeição custa 7 soles.

A grande (única?) atração da cidade é o point El Faro, uma esquerda fenomenal e a melhor onda que surfei no Peru. A onda é rápida, mas quando você encaixa a prancha direitinho no corte e acerta as passadas, surfa por um minuto ou mais. Se manter no pico é difícil porque a correnteza é muito forte, mas isso não torna El Faro perigoso, porque a água corre paralelamente à praia - se acontecer alguma coisa, você apenas será jogado até o final da onda. Toda vez que eu peguei uma onda longa e emendei até o final, nem pensei duas vezes: remei para fora da água e voltei andando até a entrada do pico. praia é feia, sem areia, apenas com pedras, e por isso vale a pena usar uma bota de neoprene para sair da água mais tranquilamente na maré baixa.

No primeiro dia pegamos com meio metrão de onda, e no segundo, ela estava com um metrão, chegando até um metro e meio. Caí com uma 6'1" no primeiro e na manhã do segundo dia, e experimentei a 6'4" na tarde do segundo dia. Foi a melhor coisa que fiz, porque com a prancha maior consegui acertar direitinho as passadas e passar todas as seções da onda de El Faro.

No terceiro dia em Pacasmayo resolvemos conhecer Chicama, apesar de sabermos que poderíamos encontrar um mar flat - a sabedoria local nos disse que as ondas em Chicama têm metade do tamanho das ondas em El Faro. Encontramos ondas intermináveis de meio metro, e, como descobri no dia, muito rápidas. Como para a esquerda surfo de backside, tive bastante dificuldade para acertar a passada e emendar as seções. O resultado é que ficava na espuma, vendo a onda continuar a armar na minha frente.

Ao longo do dia o mar baixou um pouco, e as ondas ficaram mais rápidas ainda, e aí ninguém mais conseguia conectar as seções até lá embaixo. Ainda assim, como o vento começou a bater no ângulo certo, vários tubos começaram a rodar, proporcionando condições excelentes até o vento ficar mais forte e o mar ficar ruim de vez. Valeu para conhecer, e fica a lição: se você está em Pacasmayo e em El Faro as ondas estão com dois metros, corra para Chicama para pegar ondas perfeitas e intermináveis de um metro.