Mais uma vez, não tive muita sorte nas minhas férias. Tinha deixado três semanas para julho, mas fiquei enrolado até a metade da primeira com uma prova final que precisei fazer para a faculdade, e não pude viajar logo no começo. Como o Brasil ainda disputava a Copa do Mundo, não tive pressa em fazer uma viagem, mas depois de alguns dias de férias no Rio de Janeiro e engarrafamento comecei a ter vontade de meter o pé na estrada. Inicialmente, pensava em ir para Ilha Grande e Ubatuba, em um esquema “on the road”, dormindo em campings perto das ondas.
Uma ressaca acompnhada de ventos e chuvas atingia o Rio de Janeiro, deixando quase todos os picos sem condições para o surf. Na sexta-feira a ressaca começava a passar, e as ondas na Macumba estavam bem grandes – mais de 2,5 m nas séries. Fui para a praia com o Frango, e no caminho ele comentou que atualmente uma viagem para a Indonésia está bem barata, porque lá aconteceram várias catástrofes que afungentaram os turistas: terremotos, tsunamis e atentados.
Tinha a idéia de correr atrás da viagem para a Indonésia ainda na tarde de sexta, mas logo que entrei no mar a brincadeira acabou. Antes de surfar qualquer onda a série subiu na minha frente, me obrigando a remar em direção a ela. Vi que um alucinado tentou dropar a onda, que já estava estourando, e cair. Quando passei por baixo da onda ela me puxou de volta, me fazendo embolar na espuma. Quando estava embaixo d'água senti uma prancha atingir minha perna, mas na hora nem me pareceu grave. Furei mais duas ondas, e quando sentei no outside coloquei a mão na parte de trás da minha coxa e senti que ela estava com um buraco. Saí da água, e vi que estava com um machucado bem grande, que já começava a sangrar.
Até chegar ao quiosque onde tinha deixado a chave do carro minha perna estava toda ensanguentada, e vi que era grave. Como o Frango não saía da água, deixei as coisas dele no quiosque, amarrei uma camisa de lycra na perna e rumei para o hospital. Precisei tomar três pontos no músculo e cinco na pele, e fiquei seis dias sem sair de casa. Na sexta tirei os pontos, mas só pude surfar de novo na quarta seguinte – no total, 11 dias sem surfar.
Aí não tinha jeito, só tinha menos de uma semana de férias, ainda meio capenga, e não me animei a viajar. Na quarta as ondas estavam relativamente grandes, com 1,5m na Prainha, e quando entrei na água senti um pouco a perna. Surfei só uma ondinha para sair e tomei o rumo da Macumba, onde consegui perder o medo e deixar minha perna mais destravada. Apesar de tudo, uma onda fez o dia valer a pena.
Quinta-feira estava melhor, mas ainda não 100%, e as ondas tinham diminuído bastante, com 1m na Prainha. Cheguei ao meio-dia e surfei algumas ondas boas, mas ainda sem fazer muitas brincadeiras, mas no final da tarde vi o mar baixar bastante. Na sexta-feira e sábado as ondas estavam bem pequenas e só forcei a barra na Reserva e na Prainha.
O domingo parecia que ia ser igual, com ondas ridículas na Prainha no início da manhã. Fui com o Nilo, que depois de uma caída estava querendo ir embora. Tinha conversado com os locais, que tinham me falado que as ondas melhorariam depois de meio-dia a maré, depois da maré vazante chegar a seu menor nível. Valeu muito a pena, porque o mar estava bem melhor e fez a ida valer a pena.
Consegui encaixar várias manobras – rasgadas, batidas, um floater e até um cutback meio troncho. Fiquei no mar até não conseguir mexer mais meus braços, e saí da água com um sorriso de orelha a orelha. Infelizmente, amanhã já retorno ao trabalho, logo depois de colocar o surf no pé. Contiuo com a idéia de ir para Mentawai no final do ano, mas até lá posso me contentar com escapulidas no final de semana para Saquarema.