terça-feira, setembro 18, 2007

Dicas para quem ir ao Peru

Desde março não escrevo nada aqui, mas já recebi mensagens de gente me perguntando sobre uma viagem para o Peru, por isso vou escrever minhas impressões gerais.

Em primeiro lugar, a viagem vale muito a pena para quem quer surfar, mas nem tanto para quem vai curtir férias com a família ou namorada. As praias têm água fria, o país é pobre e não tem uma infra-estrutura turística muito boa. Em Pacasmayo, então, parece que você está no Iraque, tamanha a desolação da paisagem. O principal destino turístico do país é Cuzco, cidade vizinha de Machu Pichu, mas as ondas estão a quilômetros de lá.

O que compensa tudo isso é o baixo preço que se paga por hotéis, comida, avião e transporte.

  1. Visite as surf shops de Lima. Você vai conseguir bons preços por bermudas e roupas de borracha da O'Neill e Rip Curl.
  2. Pense duas vezes antes de deixar seu filho de 18 anos viajar sozinho para o Peru, ou só com os amigos. As drogas são baratas e muito fáceis de conseguir.
  3. Leve remédios para diarréia.
  4. Se sua namorada não surfa, é melhor ela ficar no Brasil para não morrer de tédio.
  5. Aproveite as ondas!!!

sábado, março 17, 2007

Parada em Cuzco

Depois de uma semana em Punta Hermosa, no sábado subi a serra segui para Cuzco. Para quem estiver no Peru pela primeira vez para uma surf trip, a viagem a Cuzco é imperdível. Enquanto na costa a paisagem é feia, dominada pela poeira e pelo deserto, nas montanhas o verde predomina, proporcionando excelentes fotos e uma boa oportunidade para descansar o corpo.

Cheguei na tarde de sábado, no último vôo, e voltei para Lima na de terça-feira, no vôo de uma da tarde. Para quem quer viajar para o o Peru, sugiro que uma esticada até Cuzco seja um pouco mais longa, porque a cidade é bonita e nos primeiros dias você fará apenas os programas "indispensáveis", como Machu Pichu e o tour do Vale Sagrado. Ficando pouco tempo como eu, na hora que você se localizar em Cuzco, estará na hora de ir embora.

Saindo de Lima, a viagem de Cuzco me custou ao todo US$ 400, já incluído o avião de ida e volta e a viagem para Machu Pichu, que sozinha custa US$ 120. Existem 3 passeios básicos, que podem ser fechados em qualquer agência de viagens da Plaza de Armas:
  1. City tour (não fiz, mas dizem que é meio fraco, te ocupa por uma tarde);
  2. Vale sagrado (dura o dia inteiro e é imperdível, com visitas a várias ruínas);
  3. Machu Pichu (também o dia inteiro, e nem pense em ir para Cuzco sem conhecer Machu Pichu).

Ou seja, em 4 dias é possível fazer esse tour básico, e ter tempo para curtir os simpáticos barzinhos e danceterias de Cuzco. A cidade é boa para quem gosta de aventura ou ecologia, e se anima em fazer trekings, trilhas de mountain bike ou rafting, ou para os que são fissurados em ruínas de civilizações antigas.

O passeio mais comentado é a trilha inca: 4 dias e 3 noites caminhando entre Cuzco e Machu Pichu, subindo e descendo montanhas e acampanhando ao ar livre. Mas se você quiser isso, prepare-se: o acesso à trilha é controlado e é preciso fazer o agendamento e pagar as taxas com 30 dias de antecedência. Ou seja, será preciso contar com a intermediação de uma agência de viagens.

Apesar de Cuzco ser um pouco mais cara que as outras cidades do Peru, ainda assim é barata. Fiquei no hotel Qorikancha, em um quarto bem legalzinho, com direito a banheiro privativo e TV a cabo, e paguei só US$ 10 por dia. Para ir a qualquer lugar dentro da cidade (excluindo o aeroporto), paga-se 2 soles de dia e 3 soles à noite (algo entre R$ 1 e R$ 2).

Pacasmayo

Nem me lembro direito quando foi, mas há alguns anos vi um programa na TV falando de uma onda interminável, a mais longa do mundo. Essa onda, Chicama, está no Peru, e era um dos objetivos da minha viagem. Como descobri depois, não é uma onda para qualquer um, mas pelo menos consegui surfar em Chicacama - o que acabou se tornando o ponto alto da minha viagem.

Depois de ouvir falar de Chicama, descobri que no Peru existe outra onda de nível internacional, e também muito longa - Pacasmayo. Como aprendi conversando com quem já havia estado no Peru, Chicama é uma onda muito inconstante, precisando de um grande swell para funcionar, enquanto em Pacasmayo (na verdade, esse é o nome da cidade, e não da praia) o surf rola muito mais freqüentemente.

Antes de ir para Machu Pichu todo dia via a previsão do swell, esperando o dia em que as ondas estariam com 2 metros ou mais em Lima. Como não foi difícil encontrar gente que também queria ir para Pacasmayo, no dia seguinte à minha volta de Cuzco uma barca com 6 pessoas estava fechada. Por 85 soles compramos a passagem de ônibus leito, da empresa Cial, e depois de uma noite de viagem estávamos em Pacasmayo, a "cidade sorisso".

Cidade sorriso porque você olha para um lado, para o outro, sorri e fala: "Que merda!". É uma cidade pequena, pobre e maltratada, que vive em torno de uma antiga fábrica de cimento. Os únicos turistas são surfistas, quase todos brasileiros, e são três as opções de hospedagem:
  • Hotel El Mirador - diária de 40 soles, incluindo café da manhã, almoço e jantar. Os quartos são arrumados, com direito a TV de 40 polegadas e DVD, mas a qualidade da comida é duvidosa. No quinto dia passei mal por conta da comida, o que praticamente detonou o resto da minha viagem.
  • Pousada Los Faroles - mesmo preço e condições do El Mirador. Os quartos não têm camas tão confortáveis quanto as do El Mirador, mas oferece um ambiente mais agradável, com um grande jardim interno, e uma comida mais saudável. - www.pacasmayolosfaroles.com
  • Hotel El Faro - mais confortável, melhor opção para quem viaja acompanhado da namorada ou esposa. Diária de US$ 20 com café da manhã - a refeição custa 7 soles.

A grande (única?) atração da cidade é o point El Faro, uma esquerda fenomenal e a melhor onda que surfei no Peru. A onda é rápida, mas quando você encaixa a prancha direitinho no corte e acerta as passadas, surfa por um minuto ou mais. Se manter no pico é difícil porque a correnteza é muito forte, mas isso não torna El Faro perigoso, porque a água corre paralelamente à praia - se acontecer alguma coisa, você apenas será jogado até o final da onda. Toda vez que eu peguei uma onda longa e emendei até o final, nem pensei duas vezes: remei para fora da água e voltei andando até a entrada do pico. praia é feia, sem areia, apenas com pedras, e por isso vale a pena usar uma bota de neoprene para sair da água mais tranquilamente na maré baixa.

No primeiro dia pegamos com meio metrão de onda, e no segundo, ela estava com um metrão, chegando até um metro e meio. Caí com uma 6'1" no primeiro e na manhã do segundo dia, e experimentei a 6'4" na tarde do segundo dia. Foi a melhor coisa que fiz, porque com a prancha maior consegui acertar direitinho as passadas e passar todas as seções da onda de El Faro.

No terceiro dia em Pacasmayo resolvemos conhecer Chicama, apesar de sabermos que poderíamos encontrar um mar flat - a sabedoria local nos disse que as ondas em Chicama têm metade do tamanho das ondas em El Faro. Encontramos ondas intermináveis de meio metro, e, como descobri no dia, muito rápidas. Como para a esquerda surfo de backside, tive bastante dificuldade para acertar a passada e emendar as seções. O resultado é que ficava na espuma, vendo a onda continuar a armar na minha frente.

Ao longo do dia o mar baixou um pouco, e as ondas ficaram mais rápidas ainda, e aí ninguém mais conseguia conectar as seções até lá embaixo. Ainda assim, como o vento começou a bater no ângulo certo, vários tubos começaram a rodar, proporcionando condições excelentes até o vento ficar mais forte e o mar ficar ruim de vez. Valeu para conhecer, e fica a lição: se você está em Pacasmayo e em El Faro as ondas estão com dois metros, corra para Chicama para pegar ondas perfeitas e intermináveis de um metro.

sábado, fevereiro 10, 2007

Primeira semana em Punta Hermosa

Depois de um dia viajando de avião, com direito a uma longa conexão por São Paulo, finalmente cheguei na pousada do Luisfer, em Punta Hermosa. Depois de um ano viajando a trabalho e me hospedando em hotéis de alto nível, bancados pela Petrobras, o padrão alternativo da pousada me deixou um pouco decepcionado, mas depois de um dia já estava adaptado. Foi como uma volta aos tempos de faculdade, quando dormia em colchonetes nas universidades durante os encontros de estudantes ou acampava na Ilha Grande. Como a pousada do Luisfer ainda oferece 3 refeiçoes por US$ 16, cama e chuveiro, é uma boa opção para quem quer pegar onda em Lima.

Quatro picos estão bem próximos do Luisfer, podendo ser alcançados a pé: La Isla, Punta Rocas, Señoritas e Caballeros.

La Isla fica em frente à pousada, um point break para a direita que funciona bem quando o mar está grande, com 5 pés ou mais . No meu primeiro dia em Lima remei em La Isla com uma prancha 6´1´´, quando deveria ser melhor ter escolhido uma prancha maior e ficar no pico. Mesmo pegando as menores no inside, eram melhores e mais longas que as ondas que costumam aparecer no Brasil.

Punta Rocas não está tão perto, mas pagando 2 soles a uma motoneta se chega facilmente lá. Também um point break, Punta Rocas é a melhor opção quando o mar está flat nos outros points. Quando está grande só abre uma direita, mas em dias menores uma esquerda bem longa também aparece. É uma onda que quebra quase que ¨parada¨, permitindo que voce treine bastante as rasgadas e os cutbacks. Nao fazia nenhuma das duas manobras antes de chegar aqui, mas agora já consigo arriscar.

Señoritas é uma esquerda, e Caballeros uma direita, e estão ambas nos lados opostos de uma mesma praia, de águas calmas. Das duas, gostei mais de Señoritas, por ter mais parede, mas Caballeros permite que voce encontre um braço bem longo e rápido para acelerar.

Um pouco mais distantes estão Arica e Puerto Viejo, dois beach breaks de ótima qualidade. Para ir lá, pode-se contratar um táxi ou alugar um carro - as duas opçoes vao custar cerca de US$ 30, e dividindo com 4 ou 5 pessoas, não sai muito caro. As ondas em Arica parecem um pouco com as da Barra da Tijuca e Maresias, e são relativamente curtas, mas aparecem em toda a sua extensão. A praia é perto de um pueblo, e por isso deve ser bem cheia durante o final de semana - imagine uma Copacabana, com pessoas mais pobres.

Puerto Viejo lembra o Arpoador: suas esquerdas quebram sempre em uim mesmo ponto, perto de uma pedra. A diferença é que em Puerto Viejo dezenas de gaivotas e aves marinhas fazem seus ninhos (se alguma delas cagar em sua cabeça, não irá fazer muita diferença, já que voce estará na água), e dizem que lá as ondas são clássicas. Dizem, porque nos dois dias que fui lá nao encontrei ondas boas.

Para quem quer encarar uma trip maior, Cerro Azul e Pepinos, mais ao sul, devem ser boas. Não conferi essas, porque as ondas em Punta Hermosa são mais constantes e a viagem não se justificaria.

Na primeira etapa de minha viagem, fiquei uma semana em Punta Hermosa. Em termos de ondas, o maior mar que peguei foi um metrão em Punta Rocas, o que é normal nessa época do ano. Foi bom para me desenferrujar e colocar o surf no pé (dentro dos meus limites, claro!).

Descobri um site que mostra previsoes de ondas para o mundo inteiro, o site www.wetsand.com, que se mostrou razoavelmente confiável. Como ele apontava que no final de semana o mar estaria flat, mantive a programação inicial, e não alterei a data do meu voo para Cuzco.

Na costa do Peru voce fica entre o mar e o deserto, e passear pelas montanhas seria uma boa mudança. Além do mais, muita gente diz que visitar o Peru sem conhecer Machu Picchu é desperdiçar a viagem. Fazer o que então? Arrumei minhas malas, deixei as pranchas no Luisfer e parti para o aeroporto, em direção a Cuzco.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Morning of the Earth

Tudo está quase pronto para a viagem até a costa peruana. A passagem já está comigo, a nova prancha está na linha de montagem e já contratei o seguro contra acidentes (espero não usá-lo, mas não vou para Punta Hermosa jogar xadrez).

Hoje também, graças ao Clicksurf, consegui descobrir o dia e a hora que vai ser transmitido o filme "Morning of the Earth", um clássico filme de surf de 1971. Gerry Lopez no auge da sua forma aparece na película, assim como cenas de alguns dos primeiros surfistas ocidentais a chegarem a Bali. O cartaz mais parece a capa de um disco do Pink Floyd, nos lembrando como os anos 70 eram bregas.

O filme vai ao no Sport TV 2 nesse sábado, 20 de janeiro, às 23 h, com reprise no dia seguinte às 8 h. Mesmo que você nunca tenha ficado em cima de uma prancha, vale a pena conferir.

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Surf no litoral de São Paulo

O guia da semana, site de dicas culturais, publicou uma matéria sobre "secret spots"no litoral de São Paulo. Com esse tipo de divulgação, é claro que vão deixar de ser secretos, mas vale a penas conferir o guia e, depois, as praias.

terça-feira, janeiro 02, 2007

Preparativos da viagem

Subitamente, todas as coisas que normalmente tirariam minha paciência parecem ter se tornado suportáveis. O engarrafamento causado pela maldita árvore da Lagoa, os ladrões que roubam toca-fitas de carro na minha rua, a chefe que chama para uma "rápida reunião" às 6 da tarde e os domingueiros que andam a 10 km pelas ruas. Todos se tornaram suportáveis porque daqui a um mês estarei embarcando para Lima, e logo depois colocarei meus pés no Oceano Pacífico, nas praias de Punta Hermosa.

É claro que os preparativos para a viagem não se encerram na compra da passagem. Queria trocar meu long john velho de guerra, mas uma roupa de neoprene é um investimento alto, não se compra ela como uma camisa. Passei horas em lojas de surf experimentando roupas de borracha, suando alguns litros cada vez que vestia uma, até achar a perfeita para mim: uma de neoprene flexível da Billabong, que veste como uma luva no seu corpo.

Para os padrões brasileiros, é uma roupa topo de linha, mas é considerada mediana pela Billabong internacional. De qualquer maneira, a melhor que já tive.

Logo depois de comprar a roupa, passei na Surf's, uma loja da Galeria River onde havia deixado três pranchas antigas para vender em consignação, e tive uma surpresa desagradável. A dona da loja havia feito uma estimativa para cada prancha minha, e me disse que iria cobrar do comprador R$ 50 a mais por cada uma delas. Nenhuma tinha sido vendida, e descobri porque quando vi o preço cobrado: R$ 150 a mais do que eu estava pedindo. Considerando que a mais barata custa R$ 100, é um aumento violento, e que prejudica a venda.

A dona deu uma desculpa esfarrapada, dizendo que quando vende com cartão de crédito precisa pagar 20% de imposto. Deixei duas prancha da loja e tirei uma, e vou tentar vender sozinho. Por acaso meu professor de natação comentou comigo hoje que quer voltar a surfar, e com isso nem preciso apelar para o Mercado Livre. Se já conseguir me livrar dessa, pego as outras e dou uma banana para aquela interesseira.

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Próxima parada, Punta Hermosa

Agora está feito. Minha primeira surf trip internacional está marcada e já foi paga. Depois de muito desencontro, fui hoje na agência de viagens e comprei a viagem para Lima, com direito a um final de semana em Machu Pichu. Inicialmente a idéia era ir com um amigo para Bocas del Toro, no Panamá, mas como vou viajar sozinho, o Peru é um roteiro mais "civilizado".

É claro que estou mais interessado nas ondas do Oceano Pacífico, mas se eu viajasse para o Peru e ficasse apenas no litoral, quando chegasse aqui minha orelha seria alugada durante uma semana. "O que? Você foi ao Peru e não visitou Machu Pichu??? Eu já percorri a pé dez trilhas incas para a cidade, e estou escavando a montanha em São Tomé das Letras à procura do túnel que liga as duas cidades!!!" Para escapar dos esotéricos de plantão, melhor perder três dias de surf e encarar as montanhas peruanas.

O engraçado é que quando falo para as pessoas que ia para o Peru, várias me oferecem dicas sobre o país. Acho que vou ter material para escrever um guia de viagens. Se tiver disposição, tiro uns dias e vou para o norte, encarar a esquerda grande e interminável de Pacasmayo. E ainda tenho todo o mês de janeiro para me preparar para a expedição.